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terça-feira
04 de setembro de 2018
Existem muitas míticas em relação às formas de implantar o IPv6, independente do formato que escolha, existem alguns passos que são fundamentais para alcançar o sucesso da implantação do IPv6 em um ISP.
1. Bloco de IPv6
Verifique se sua empresa já tem o bloco de IPv6 /32 delegado para seu AS. Isto é mais que suficiente para empresas que nos próximos 5 anos estarão operando abaixo de 50.000 clientes. Caso sua operação tenha mais de 50.000 clientes ou tem a previsão de alcançar este número nos próximos 2 anos, é recomendável a solicitação de mais um /32. Pode parecer muito, mais o IPv6 trabalha com redes, não com IPs como estamos acostumados.
2. Fornecedor do provedor
Verifique com seus provedores de Link IP, PTT, conteúdo confinado e CDNs se eles já suportam IPv6. Se sim, solicite aos fornecedores o transito IPv6 em sua sessão BGP. Caso os seus provedores atuais não tenham suporte para IPv6, para iniciar seus testes, homologação da rede e treinamento da equipe, você pode usar serviços de túneis que, embora gratuitos, são de boa qualidade para testes, como, por exemplo, o serviço da Hurricane Electric (http://tunnelbroker.net - Recomendado para Sistemas Autônomos, é possível estabelecer sessões BGP e anunciar seu próprio bloco).
3. Projeto de implantação
As análises iniciais, como vimos até aqui, não custam nada e são simples de fazer. Contudo ter um projeto formal com o apoio da diretoria é fundamental, pois pode até parecer que a implantação do IPv6 afeta somente a equipe de rede, mais isso é uma ilusão: afeta 100% da empresa e o impacto nos usuários é elevadíssimo. Um exemplo forte destas mudança ocorre de imediato no processo de compra. O departamento de compras é um dos primeiros impactados, pois, a mudança na política de compras e contratações de serviços, equipamentos e softwares, precisa ser imediata. Para isso precisamos conversar e explicar para os envolvidos a importância do IPv6 e como deve ser o novo procedimento de análise dos itens para compra, em caso de dificuldades, ofereça ajuda, afinal eles não são técnicos. Normalmente, os principais entusiastas para implantação do IPv6 são da área técnica, mas se você quer realmente ter sucesso, é imprescindível esclarecer a importância do IPv6 para todos os setores, seus benefícios e impactos antes, durante e depois da implantação, e principalmente obter apoio da diretoria em um projeto formal com início, meio e fim.
4. Políticas de segurança
Iniciando os primeiros passos em IPv6, não podemos esquecer de revisar as políticas de segurança. Elas devem ser equivalentes ao que você possui no IPv4, respeitando algumas pequenas diferenças, como não filtrar o ICMPv6, entre outros detalhes que são específicos do IPv6. Reveja também os filtros de prefixo IPv6 em suas sessões BGP. Novamente, essas políticas são equivalentes ao que você já conhece para o IPv4.
5. Habilitação dos equipamentos da rede
Talvez a parte mais árdua seja esta: verificar todos os equipamentos da rede, pois você precisa saber quais equipamentos possuem o suporte correto ao IPv6, quais precisam ser atualizados ou até mesmo substituídos. É importante ter um inventário detalhado dos equipamentos e suas respectivas licenças e versões de firmware, principalmente das CPEs dos clientes. O que temos visto é que normalmente os equipamentos de backbone já possuem o suporte ao IPv6 ou uma simples atualização já ativa o protocolo. O maior desafio está nas CPEs, pois, além da quantidade ser muito maior, normalmente existe uma grande diversidade de firmwares, modelos e fabricantes envolvidos.
Nesta etapa, se seus fornecedores tiverem novos firmware com suporte a IPv6, basta atualizar e tudo está resolvido. Contudo caso eles não forneçam o suporte adequado, você deve pressioná-los para fazê-lo. Caso isso não seja possível, será necessário considerar troca de firmware por versões open source, como OpenWRT, ou até pensar na substituição do equipamento.
6. Monitoramento da rede
Monitorar a rede é fundamental em qualquer situação e com IPv6 não seria diferente. Configure o suporte IPv6 em todos os seus sistemas de monitoramento. O IPv6 tem a mesma importância que o IPv4, de modo que qualquer sistema que permita visualizar a qualidade da rede, a quantidade de banda, a estabilidade, a visibilidade dos seus prefixos, etc, deve suportar IPv4 e IPv6 com as mesmas funcionalidades.
7. Plano de endereçamento
Crie seu plano de endereçamento detalhado. Este é um ponto delicado para uma implantação de IPv6 correta, muito diferente do que foi o IPv4. Com certeza, você precisará de uma ferramenta para auxiliar (segue uma sugestão open source, o IPAM – Gerenciamento de endereços IP, que resolve bem o problema). Dê atenção a este passo, pois é impossível gerenciar milhões de IPs com o arquivo de texto ou planilha tradicional, como você já fez antes com o IPv4.
8. Implantação de teste
Implante o IPv6 inicialmente no prédio da sua empresa, pois seus técnicos precisam aprender a lidar com este novo ambiente com a mesma desenvoltura que hoje lidam com o IPv4, a pilha dupla pode ser suficiente em uma primeira fase. Caso você tenha MPLS na rede, existem técnicas que diminuem muito o impacto da implantação do IPv6. É recomendável implantar sempre o MPLS, os benefícios são inúmeros. Caso não exista esta possibilidade, a pilha dupla é a melhor opção.
9. Capacitação da equipe técnica
Nada pode ser mais hostil para o sucesso do projeto do que uma equipe despreparada ou buscando informações muitas vezes desencontradas na imensidão da internet. Preparar a equipe com capacitações e treinamentos de implantação do IPv6 em ISPs é muito importante, pois o IPv6 não é mais difícil que o IPv4, contudo IPv4 e IPv6 são diferentes, e a maior dificuldade está na quebra de paradigma das equipes.
Na maioria dos projetos é necessário "desvendar" os detalhes do IPv4 para entender corretamente o IPv6. Investir tempo e dinheiro em aquisição de conhecimento com profissionais mais experientes pode parecer desnecessário a princípio, no entanto, o tempo economizado será ainda maior, pois o projeto terá muito mais assertividade e a sua equipe estará preparada para gestão da rede após a implantação.
À medida que a transição para o IPv6 se torna cada vez mais urgente, o custo com perdas de negócios, problemas com IPv4, desgaste da imagem da empresa, traumas da equipe, entre outros, será maior que os investimentos em capacitação e conhecimentos para a sua equipe, pode ter certeza!
Pronto, sua rede e sua equipe estão prontos para o futuro! Agora, você precisa começar a pensar como aproveitar o IPv6 com novos serviços e aplicativos. IoT é uma vertente que você encontrará algumas demandas e pode ser um bom início.
Você que já possui ou não asn, saiba mais sobre a 3ª fase de esgotamento de IPv4.